Olá, meninas,
Quando li essa matéria, fiquei bastante sensibilizada. É que só uma mulher, sabe das dificuldades que as outras mulheres passam para terem seu espaço na sociedade. Geralmente, temos dupla, tripla jornada. Geralmente, mais do que cuidar de si mesma, a mulher tem que cuidar da casa, do marido, dos filhos. E ainda tem que render e produzir no trabalho. Tem que estar linda e bem cuidada, antenada com todas as novas modas e tendências do mundo fashion. E tem que ter bom humor para viver a vida, porque somente uma mulher bem humorada, consegue fazer tanto sem descer do salto ou perder a linha.
Agora imaginem, se numa época em que não haviam os recursos tecnológicos que existem hoje, uma mulher simplesmente ficasse cega? O que poderia esperar da vida? A piedade dos outros? Deveria ela se apiedar de si mesma? Não foi o que fez Dorina Nowill, um exemplo de dedicação na luta pela inclusão de pessoas com deficiência visual na sociedade e no mercado de trabalho. Dorina partiu no finalzinho do mês de agosto, mas abaixo, reproduzo o artigo retirado do site da revista Época, para que vocês leiam e saibam um pouco mais da luta desta mulher de fibra, que nos deixa de presente, o Instituto que leva seu nome, e que desde a sua fundação, tem ajudado muitos deficientes visuais, a encontrar a luz, bem antes do fim do túnel.
Dorina Nowill – (1919-2010)
A aceitação da cegueira foi a chave de sua existência
Por Martha Nowill
No dia 30 de outubro de 1980, minha avó estava em Nova York discursando perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Não era um discurso qualquer. Era o Ano Internacional dos Deficientes e coube a ela fazer o discurso de abertura da convocação para a Assembleia-Geral. Sem dúvida foi um dos momentos mais importantes de sua carreira internacional. Aqui no Brasil, no mesmo dia e na mesma hora, eu estava nascendo no Hospital Santa Isabel, o mesmo onde ela veio a morrer, no domingo passado, quase 30 anos depois.
Mas a história de Dorina de Gouvêa Nowill começou bem antes disso, em 1919, na cidade de São Paulo, com a ajuda de uma parteira. Quatro anos depois, ela já escapava de casa, atravessava a rua e ia até a sala de dona Durvalina, onde crianças mais velhas do que ela aprendiam a ler. E ela também queria, por que não?
Em 1932, quando estourou a Revolução Constitucionalista, ela e dona Dolores, sua mãe, trabalharam como voluntárias costurando uniformes e recolhendo cigarros e sabonetes para os soldados. Dorina tinha 13 anos. Numa tarde quente de domingo, quatro anos depois, ela passou na frente de um cinema onde o musicalA melodia da Broadway estava em cartaz. Quis entrar, mas resolveu deixar para outra hora. Alguns dias depois ela estava completamente cega, devido a uma infecção ocular, e nunca mais pôde ver o filme. Uma noite, depois de todos os tipos de tentativas imagináveis para recuperar a visão, Dorina sentou na soleira da porta e disse para si mesma: “Estou cega”. Acho que esta foi a “chave” de sua existência, a aceitação. “Aquele que sabe aceitar se torna uma fortaleza, ninguém o vence”, ela costumava dizer.
A reconstrução de Dorina foi feita aos poucos. Primeiro ela aprendeu o braile, a linguagem de leitura dos cegos. Voltou a estudar e foi a primeira aluna cega a matricular-se em um curso para estudantes de visão normal. Depois viu que eram raros os livros disponíveis e resolveu que ela mesma iria produzi-los. Na época quase não existiam, no Brasil, as réguas que se usam para imprimir textos em braile, as regletes. Com a ajuda de amigas, Dorina conseguiu que a estrada de ferro as fabricasse. Depois convenceu voluntárias a trabalhar na manufatura dos textos. Intercalava a força de um furacão com a paciência de um agricultor. Em 1946, com outras pessoas, criou a Fundação do Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill. Nesse mesmo ano, pediu uma bolsa de especialização na educação para cegos nos EUA. Seu Manoel, o pai, brincava: “No máximo, vais conseguir uma bolsa de crocodilo”.
Algumas semanas depois, ela embarcava no voo da Panam. Lá, conheceu meu avô, Edward Hubert Alexander Nowill. Antes do primeiro encontro, ele disse ao telefone: “Será que você vai gostar de mim? Olha que eu sou feio, hem…” Ela de imediato replicou: “Não tem importância, eu sou cega mesmo”.
Voltou dos EUA depois de conseguir a doação de um maquinário de impressão braile para a Fundação. Minha avó queria incluir os deficientes no mercado de trabalho, nas atividades sociais e em tudo o mais que fizesse parte da vida. “Sempre lutei para que os cegos fossem apenas mais um”, dizia. Era uma época em que um cego só podia fazer o papel de inválido, e mais nada. Acabou entrando na política. Foi responsável pela criação, na Secretaria da Educação de São Paulo, do Departamento de Educação Especial para Cegos. Toda vez que trocava o governo, ela devolvia o cargo de confiança e, durante 11 mandatos, foi convidada a reocupá-lo. Em 1979, foi eleita presidente do Conselho Mundial dos Cegos, uma de suas muitas conquistas.
Pessoalmente, era severa e exigente. Minha mãe conta que Dorina deixava as vendedoras loucas porque sempre descobria defeitos nas roupas pelo tatopersistência, generosidade, bondade e como tudo isso era espontâneo, verdadeiro e coerente para ela. Um dia antes de sua morte, que aconteceu em 29 de agosto, estive no hospital. Parece loucura, mas ela estava tão iluminada e quente que, quando olhei em seus olhos, achei que ela estava enxergando. Nunca tinha visto aquele olhar. Acho que era a expressão de missão cumprida. Minha avó deixa saudades, marido, cinco filhos, 12 netos e três bisnetos.
Espero que vocês tenham gostado desta história, e percebam que independentemente dos problemas, temos que continuar lutando e acreditando nos nossos sonhos. Reafirmando nossos valores e encontrando nosso verdadeiro lugar neste mundo. Porque a vida só vale a pena, se conseguimos fazer a diferença.
Visitem o site Instituto Dorina Nowill e saibam um pouco mais dos trabalhos desenvolvidos.
Espero que tenham gostado.
Beijos
Renatinha Araújo
setembro 10, 2010Nossa! Gostei bastante deste post!
O meu blog fala justamente sobre isso: as conquistas das mulheres!
Bela escolha para reportagem!
Beijos!