O adeus a um ídolo e uma reflexão sobre os males do álcool

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A semana começa triste, muito triste. Na madrugada de domingo, o ex jogador de futebol Sócrates, acabou perdendo a dura batalha que vinha travando para se manter vivo.  O Dr. Sócrates, como era conhecido, não foi apenas mais um jogador de futebol brilhante, mas foi um homem que conseguiu criar uma nova mentalidade dentro do futebol brasileiro. Ele conseguiu se formar equilibrando o futebol e a universidade, e foi esse jogo de cintura em saber circular por meios tão diferentes, que fez com que ele ganhasse prestígio e credibilidade de jogadores e lideres de futebol. Por ser articulado e grande conhecedor das necessidades dos atletas, e por entender como se formam os conceitos que regem os clubes de futebol, ele participou da chamada Democracia Corintiana e também se fez presente em momentos especiais da política do nosso país. E saber que alguém tão brilhante foi embora tão cedo, faz com que nos entristeçamos e fiquemos com um sentimento de que algo poderia ter sido feito, e não foi.
Quando eu falo aqui no blog sobre os efeitos do alcoolismo, alguns podem me julgar até mesmo extremista. Eu não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica, e isso não me faz menos interessante ou menos divertida nas minhas saídas com os amigos. Eu consigo passar a noite toda tomando Coca Cola Zero com gelo ou água mineral, e ainda assim, sentir prazer em conversar, dançar e me divertir. Não estou falando que as pessoas tem que parar imediatamente de beber e devem fazer igual à mim. Mas penso que devemos começar a rever nossos valores enquanto sociedade e percebermos que o abuso no uso do álcool hoje, é uma dos males que vem ceifando vidas e destruindo famílias inteiras. O próprio Sócrates, admitiu que começou a beber ainda na universidade e nunca conseguiu se libertar do vício. Vi uma entrevista em que os médicos diziam que ele ainda estava vivo, porque tinha um organismo forte por ter sido atleta. Mas que um indivíduo comum, não teria suportado metade do que ele suportou com vida.
Fala-se tanto no crescimento do consumo de drogas, mas se esquece que a porta de entrada para esse mundo é o álcool. Só que ele por ser uma “droga” liberada, tem sido visto com um status que não tem, e nossos jovens são amplamente estimulados ao seu consumo, pois as campanhas milionárias veiculadas na mídia, deixam bem claro que é isso que esperamos deles. Todos sabemos que os adolescentes e jovens, são muito mais influenciados por qualquer coisa, pois ainda estão num período em que tentam se enquadrar em determinados padrões para se sentirem aceitos em sociedade. E uma vez mergulhados nesse mundo onde as bebidas, mais do que licitas, são colocadas como fundamentais, é bem complicada a sua saída.
Os acidentes de trânsito, que todos os anos ceifam milhares de vítimas, problemas de saúde física e mental e até mesmo a desordem financeira em que muitos se encontram, todas essas coisas tem a raiz no consumo desordenado do álcool. Homem pra ser homem, não precisa encher a cara! Homem de verdade, é aquele que se forma pelas coisas que conseguem agregar das suas experiências na vida e pelo modo que consegue se relacionar com os outros. Homem de verdade, busca o equilíbrio entre o corpo e mente, e cuida de si, pois sabe do seu verdadeiro valor. Da mesma forma que a mulher de verdade, não precisa beber horrores para se mostrar moderna  e descolada. A verdadeira modernidade, é aquela que consegue agregar conhecimento e atitude , coisas que adquirimos quando conseguimos ter uma visão mais ampla da vida e da nossa função dentro da engrenagem que rege a nossa vida em sociedade. Então, podemos ser interessantes sim, de “cara limpa”, “caretas”, porque esse é o verdadeiro “barato”. Estarmos sóbrios e plenamente conscientes.
Apesar de apoiar plenamente a operação Lei Seca, eu sei que ela isoladamente não consegue fazer com que as pessoas tenham consciência de que não devem beber e dirigir. A punição cria um certo medo, um receito, mas não consegue modificar padrões de comportamento. Esses padrões só se modificam, quando cria-se um diálogo franco e aberto, onde conseguimos deixar claras questões que a sociedade em vários momentos, faz questão de omitir. O álcool não está presente apenas nas camadas mais humildes da população. Existe uma glamourização da bebida, que é tida como chique e elegante nas altas rodas. Embora vejamos todos os dias, as mancadas que algumas celebridades dão quando estão sobre os efeitos do álcool.
Por outro lado, parece que quem busca ajuda, se sente marginalizado e por conta disso, muitos relutam em procurá-la, ou mesmo se vêem realmente como dependentes da bebida. Existe um conceito errado de que o usuário é alguém irresponsável, fraco ou mesmo que seja incapaz de gerenciar esse tipo de situação. E o fato, é que não podemos tratar como social, algo que precisa ser tratado como assunto médico. Os médicos precisam realmente se preparar melhor para atender a quem deseja se livrar do vício da bebida, pois é algo bem mais complexo do que simplesmente receitar antidepressivos para os pacientes. É algo que precisa vir acompanhado por terapias ocupacionais, e por profissionais que tenham esses indivíduos assistidos por um período indefinido, levando-se em conta, que existe a possibilidade de recaída.
Mas como conseguir isso, se até mesmo o mais básico do básico nos falta na nossa rede de saúde? Como ajudar a quem precisa, se existe todo o estigma de que ele por si só, já é um fracassado?  Como fazer alguém que se vê incapaz de controlar seus próprios desejos, ter forças para investir num futuro melhor e de mais qualidade de vida? Sinceramente, não sei. Mas se nós pudéssemos nos unir e encontrar saídas juntos, alguma coisa ainda poderá ser feita por tantos que precisam de nós. Políticas públicas precisam ser implementadas para fazer com que o cidadão se sinta amparado em um momento de dificuldade, em que busca recomeçar livrando-se de um vício.
Bom, eu tenho esses repentes de escrever sobre questões mais sérias e mais ligadas à nossa melhoria de vida. Gosto de fazer com que outras pessoas questionem junto comigo e busquem dentro de si mesmas, respostas para as perguntas que angustiam a todos nós. A vida tem belezas diversas, mas quando nos anulamos atrás de um vício (seja ele qual for), estamos nos poupando dessa parte tão importante para a nossa existência, e nos satisfazemos com muito pouco. Então, mesmo que não dê para mudar todo mundo, comece olhando para dentro de si mesmo, e vendo se não dá para mudar pelo menos você. Porque quando estamos abertos a mudanças, temos a possibilidade de impactar os outros com ações que sejam mais firmes e mais fortes do que as palavras, e que tenham o peso e a força de uma vida realmente comprometida com o bem estar comum.
De qualquer forma, descanse em paz, Magrão! Por aqui, certamente você já está fazendo falta!

É isso…
1 Response
  • Larissa Souza
    dezembro 6, 2011

    Adorei o texto e concordo com você Juh!
    Acredito que o que falta na maioria das pessoas que bebem desenfreadamente é um pouco de respeito pela vida, tanto delas quanto pela vida dos outros! As pessoas acham que nunca nada acontecerá com elas… esse é um grande problema, pois muitas tragédias são frutos das irresponsabilidades dos que pensam assim! A adolescência hoje em dia só é divertida se for regada a bebidas e outras drogas… é um fato lamentável! E não se pode justificar isso por falta de informação, mas acredito que a mídia é uma fator determinante nos casos de alcoolismo, são inúmeros os comerciais que "pregam" (de forma implícita ou não) que você se torna mais sociável se beber, que as pessoas mais legais são aquelas que bebem e até mesmo a questão da sedução está constantemente envolvida.
    Por isso acredito que tentar conscientizar as pessoas sem conscientizar a mídia, não resolve muita coisa, pois a mídia é um forte meio de alienação e influência!

    Beijos.

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