The Voices Brasil – a vitória de Ellen Oléria

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Tenho que ser sincera e informar que não assisti o The Voices Brasil desde o início. Eu sou meio assim mesmo. Alguns programas de TV e novelas, não me ganham logo de cara. Alguns assisto do meio para o final. E com o The Voices não foi diferente. Ainda mais que por não saber qual seria a essência do programa, como ele seria conduzido, fiquei meio que com preguiça de me aventurar. Não sei, mas os concursos de calouros do Raul Gil me deixaram tão entediada e hoje, não tenho (a menor) paciência para assistir o povo cantando por lá. Mas um dia, da cozinha mesmo, ouvi a TV da sala com um dos candidatos se apresentando e me sentei para ouvir. De lá pra cá, virei fã incondicional.
Para começar, nenhum dos candidatos que se apresentaram, eram pessoas saídas do povo, cruas, sem nenhuma experiência com a música. Eram todos profissionais muito qualificados e extremamente talentosos. Com estilos próprios e com uma coerência musical que dava para ser notada logo de cara. Quando um programa com esse formato é lançado, não se enganem, o que se procura é alguém que possa atender a uma necessidade do mercado, e não somente alguém que cante bem. Alguém que corresponda à expectativa da gravadora, dos produtores musicais e principalmente daqueles que consomem música. E por conta disso, quando eu vi candidatos bons, mas que apresentavam “mais do mesmo” eu senti claramente que eles seriam eliminados na primeira oportunidade.
Na semana passada, eu falei neste post aqui, a respeito das candidatas negras que haviam ficado para a final, e meu foco vai continuar sendo em cima delas, acrescentando desta vez, Maria Cristina. Não vou me ater no texto de hoje aos outros candidatos que se apresentaram hoje, pois não conseguiram me convencer. O fato, é que as mulheres que estou citando, conseguiram de forma singular se destacar e deixar sua participação marcada no programa. Elas certamente, verão suas carreiras darem um “up” à partir de agora, ainda mais, que o programa caiu no gosto popular lhe garantindo até, uma segunda temporada em 1023. Mas voltando às candidatas, eu tinha a minha preferida, conforme já havia deixado claro no Facebook e minha torcida era por Ellen Oléria.

Confesso que me deu meio que um medo que ela por algum acaso do destino, não vencesse a competição. Afinal, existem tantas coisas que podem acontecer em programas que tem esse formato. Ainda mais quando se está numa final, onde os nervos de todos estão à flor da pele, e a participação do público de casa, tem o poder de decidir quem vence. Não vou falar em ordem, até porque, isso não fará a menor diferença, mas Thalita Pertuzatti desafinou logo ao começar a cantar, o que fez com que suas chances fossem mínimas e ela deixasse escapar das suas mãos, qualquer chance de ir adiante. A impressão que tenho, é que ela quis dar mais do que podia e simplesmente se perdeu. Dando a  entender que o cantar parecia algo gritado, forçado. Simplesmente não conseguiu.
Ludimilhah Anjos, confirmou novamente a boa comunicação que tem com as massas, se apresentando como se tudo aquilo, naquele momento, fosse uma enorme festa. Como já disse antes, acho que o fato dela cantar e tentar dançar, lhe prejudica (em muito), porque para fazer esse tipo de coisa, precisaria de um preparo físico que ela ainda não tem. E não falo isso porque ela é gordinha, não, porque o Thiago Abravanel no musical sobre a vida de Tim Maia, canta e dança maravilhosamente bem, sem se perder e com uma qualidade impecável. Até o tal do “Pah” me soa exagerado. E acredito que investir nesse tipo de estilo vai limitá-la muito, pois por vezes, soa caricato.
Késsia Abreu,  chegou como sempre impecável. O que é a postura dessa mulher no palco, gente? Parecia uma modelo, uma rainha, uma princesa. Qualquer coisa! A voz delicadamente modulada, segura, contida nas horas certas e solta nos momentos exatos. Deu mais uma vez, um show de interpretação e fez com que o talento dela ficasse ainda mais evidenciado e reconhecido.

Maria Cristina, foi uma que me deu medo. Porque ali, naquele momento, eu vi que ela seria uma ameaça real para a Ellen. Voltando a falar do contexto comercial, da voz que se procura e da necessidade do mercado, Maria Cristina é o tipo de cantora que interessa ao mercado, pois desde a morte de Cássia Eller, esperávamos por uma cantora forte e com agressividade vocal e atitude no palco. Coisas que Maria Cristina tem de sobra. Mas hoje, acho que a escolha da música não foi das mais acertadas.
 Muitos de nós pensamos que quando Maria Gadú surgiu no cenário musical, ela seria essa substituta. Mas não dá para dizer que uma cantora se parece com outra em seu estilo musical, só porque também é lésbica e adota um estilo masculino na hora de compor o seu visual.  Maria Gadú apesar de ter sempre looks despojados e masculinizados, tem uma doçura na voz, que consegue fazer com que até uma canção de ninar fique bem na sua interpretação.
Hellen Oléria, quando entrou, já disse a que veio. Gente, como essa mulher é grandiosa! E para mostrar todo o seu talento, ela não precisou gritar, berrar, nada disso! Começou cantando “Anunciação” de uma forma doce, acalentante e totalmente poética. Com um trabalho vocal primoroso, alternava momentos em que praticamente sussurrava os versos, com momentos em que deixava as palavras fluírem fortes e firmes dos seus lábios. Me emocionei.

A segunda canção escolhida, foi mais uma acerto, Taj Mahal. Parecia que ela, de alguma forma, sabia que aquele era realmente o seu momento. Ela conseguiu fazer uma festa gostosa e cheia de estilo, introduzindo gostosas risadas dentro da canção, tudo cuidadosamente programado e planejado (é claro). Mas que deixou tudo parecendo um grande improviso. Isso nada mais é do que técnica apurada e total domínio na interpretação de uma canção.
O jeito que ela olhava, se deslocava no palco, sorria e cantava, tudo deixava mais do que claro que Ellen Oléria era naquele momento, a voz que o Brasil havia escolhido. E a vitória dela como cantora, é também uma vitória contra três esteriótipos muito fortes: ela é negra, gorda e assumidamente gay. E observem bem, que eu não fiz questão de dizer “gordinha” como geralmente faço com medo de que alguém se ofenda com a colocação. Até porque ao olhar aquela negra, com aquele vozeirão imenso, seria irônico chamá-la de gordinha.
Ellen é gorda. Simples assim. Gorda no melhor e mais agradável sentido da palavra. Uma mulher gorda, grande e que toma todos os espaços quando chega, porque seu talento se espalha por todos os lados. E perceber que as pessoas votaram nela, sem se importarem com quanto ela pesa, é uma prova que que muita coisa já tem mudado na cabeça de muita gente. Mas mais do que isso, como dizer que Ellen não era completamente linda se apresentando,  mesmo com seus cento e vários quilos? igualmente bela e totalmente plena de todo o seu potencial. Soube estar, acima de tudo e de todos.

O fato de ser negra me enche de orgulho,  claro! Mas nós negros, temos uma tradição de cantarmos bem, que as pessoas geralmente reconhecem e ratificam. Parece até que procuram isso em nós, porque está quase como uma das características da raça. E ver uma mulher negra e gorda vencendo, me fez ficar toda orgulhosa, porque ela deixou muitas outras candidatas mais bonitas e mais magras, para trás. E perceber que hoje, assistimos a vitória do talento, sobrepondo-se à qualquer outra coisa, me deixou muito feliz.
Ellen também é gay. Mas isso, pouco importou para mim e para o Brasil, que a elegemos a voz do Brasil, junto com sua mãe e sua namorada, que vibraram na platéia, pressentindo o que estava por vir.  O que interessou à nós todos, foi o modo, a maneira,  como ela soube se fazer grandiosamente bela, fabulosa e excepcional em todas as suas apresentações. Ela hoje, traduz a alma da mulher brasileira, em nossa força e luta de todos os dias.
Eu não tenho o menor pudor em dizer que eu reverencio o talento, quando o encontro, quando o percebo. Quando vejo alguém que consegue chamar minha atenção por sua genialidade, eu simplesmente reverencio e me sinto feliz, pela oportunidade de ter encontrado algo inusitado.  E me alegro ao ver esse talento sendo reconhecido por outras pessoas, e no caso da Ellen, ainda por cima premiado. 
Espero que muito além dos R$ 500.000,00 que ela recebeu, do carro, do gerenciamento de carreira, do contrato com a gravadora e do show da virada na praia de Copacabana, ela encontre um caminho aberto que lhe proporcione oportunidades reais de ver sua música perpetuada. Que ela encontre em seu caminho, chances de continuar sendo cantora que é, cheia de força, brilho e muito talento. E que o mercado a receba e a trate muito bem, porque ela merece fazer sucesso por muuuuito tempo. Simplesmente Diva.
Parabéns, Ellen Oléria, a voz do Brasil!
4 Responses
  • Thaisa
    dezembro 23, 2012

    Assim como vc, não comecei a assistir ao programa do princípio porque os formatos que já existiam na tv pouco me atraiam e achei que o 'padrão global" não ía ser muito diferente. Mordi a língua! Depois que ouvir Ellen Oléria se apresentar, me apaixonei! Aí começou minha saga em busca de informações dessa grande voz. Então percebi que a Ellen buscava, mais que o prêmio, o reconhecimento nacional. Ela já é um grande nome no cenário brasiliense. Mas de tudo isso, o que mais me surpreendeu foi observar em suas composições uma Ellen Oléria mais "contida" – e sinceramente, prefiro a Ellen, The Voice!

  • Brenda Melo
    dezembro 17, 2012

    Belíssimo texto.

  • Ayeska A
    dezembro 17, 2012

    Confesso que não torcia para a Ellen. Mas hoje, vi a apresentação dela. PERFEITA! "Anunciação", que já acho uma música linda, teve uma interpretação sem igual. Assim que ela terminou de cantar a música fiquei imaginando como seria interessante ouvir outras músicas em sua voz. Se ela já tivesse um CD ou um DVD com certeza eu compraria, sem medo de me arrepender. Agora, é aguardar o lançamento de algum CD e esperar que a mídia dê a ela seu devido espaço. Estamos carentes de artistas talentosos. E isso, ela é. Sem dúvida alguma. BEijos.

  • Ysa
    dezembro 17, 2012

    Nossa!! Eu concordo com tudo o que você disse mas aachei que uma ameaça pra Ellen seria a Ju Moraes exatamente por isso que você disse, o perfil dela magrinha e bonitinha pensei que poderiam escolhê-la por isso mas desde sempre a torcida foi pela Ellen. Ela ganhou o the voice quando cantou zumbi. Todos sabiam! Adorei o post.
    Boa noite! Tenha uma ótima semana!
    Beijo grande!

    http://yarasousa.blogspot.com.br/

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