A morte do Ken humano brasileiro: será que vale tudo pela beleza?

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Ontem, depois da notícia da morte de Celso Santebañes, o ken humano brasileiro, vários pensamentos ficaram pairando na minha mente. A morte de um rapaz tão jovem, com apenas 21 anos de idade, nos trás à tona uma realidade dura e mesquinha: a busca exagerada pela beleza e por um padrão estético perfeito. Quem observar as fotos dele ainda criança, poderá notar que ele era um menino muito bonito, o grande problema, é que ele nunca conseguiu se enxergar dessa forma, e a necessidade de ir “melhorando” sua aparência, foi tomando uma proporção fora de controle. Se vocês me perguntarem se eu acho que os produtos que ele injetou no corpo, podem ter provocado o câncer que ele teve, a minha resposta é: “não sei!”. Não tenho conhecimento técnico e científico para afirmar que as substâncias usadas por ele nos últimos anos para modelar o corpo, entraram em contato com o sistema sanguíneo desencadeando o problema. Mas o que quero falar não é isso, é a forma como esse jovem já agonizava doente há tanto tempo, e ninguém se deu conta. Quando ele começou a se tornar obcecado pela aparência, seria importantíssimo que alguém tivesse se atentado de que ele precisava de ajuda. Notem que não estou falando de alguém vaidoso e que gostava de se cuidar, estamos falando de um rapaz que disse ser capaz de tudo para se manter em forma e dentro do padrão de beleza que ele julgava aceitável. Em uma entrevista ela chegou a dizer que se por acaso engordasse, seria capaz até de se matar.


Ele era obcecado também pela fama, queria o título de “Ken Humano Brasileiro” para poder colher os louros dessa fama imediata nos grandes veículos de mídia. Através do seu twitter, tentou de todas as formas chamar a atenção de pessoas dos meios de comunicação e artístico, para que lhe conseguissem uma aparição em algum programa de televisão, e conseguiu. O fato é que seja pela aparência ou pelo diálogo do rapaz, era fácil perceber que se tratava de uma pessoa doente, descompensada e com um  sérios problemas de ordem psicológica. E a mídia cumpriu seu papel mesquinho e maligno de expor a dor e a miséria humana à exaustão, pois se utilizou da imagem dele em vários programas popularescos, e em momento algum, lhe ofereceu ajuda para resolver ou pelo menos amenizar, o desespero que havia tomado conta da sua alma. Se ele topava tudo pela fama, os comunicadores das emissoras de TV, toparam tudo pela audiência e começaram a dar cada vez mais espaço ao rapaz, para aparecer em seus programas. A verdade é que ele nunca falou coisa com coisa, e se foi exemplo de algo nessa sua curta vida, foi exemplo do que não se deve ser e fazer. Indiferente à isso tudo, a mídia continuou cobrindo as mazelas da vida de Celso, e quando ele se descobriu com câncer (um tipo raro de leucemia), mais uma vez perceberam nele material farto para compor mais matérias de cunho sensacionalista e foi exatamente isso que fizeram.

Confesso que eu mesma, cheguei a duvidar da veracidade da doença, pois sendo Celso tão obcecado pela fama, essa poderia ser uma notícia plantada para atrair holofotes e atenções, mas nfelizmente a doença era real, e o rapaz que prezava tanto por uma aparência perfeita, se viu definhar, se abater e perder os cabelos no leito de um hospital. Ao ter uma singela melhora, se apegou à ela com todas as forças disse saber que seria curado, que sairia dessa. Segundo informações, aceitou Jesus e planejava uma vida diferente, nos moldes do que havia acontecido com Andressa Urach, que também sofreu os efeitos da vaidade exagerada, mas conseguiu sobreviver e hoje é evangélica. Celso tinha planos de escrever um livro falando da sua experiência de cura e de conversão, mas infelizmente, para ele as coisas foram mais complicadas, e seu frágil corpo sucumbiu diante da fragilidade imposta pela quimioterapia. Uma pneumonia deu fim à sua vida e aos sonhos de uma beleza eterna e perfeita.

E diante disso eu me pergunto: “Será que vale tudo pela beleza?” Eu mesma já sei a resposta, pois já faz tempo que eu sei que não, que essa beleza surreral só serve mesmo para destruir formar indivíduos doentes e incapazes de lidar com as próprias limitações e imposições do corpo e da vida. Não sou à favor que ninguém deixe de se cuidar, de fazer o melhor por si, até porque acredito que a valorização da beleza de cada um de nós, nos beneficia no sentido de melhorar a nossa relação com nosso eu interior. Também nos tornamos muito mais seguros com a nossa relação com a sociedade, conseguimos evoluir na nossas relações interpessoais, temos uma postura melhorada, a auto estima elevada e passamos a ter consciência de quem somos e do quanto valemos. A beleza real precisa ser descoberta, e ela não pode ser morta ou abatida, por essa beleza superficial e mesquinha que a mídia prega, e que muitos de nós, ingenuamente compramos e aceitamos para a vida. Se Celso viveria mais tempo se não tivesse adentrado nessa loucura de perfeição, eu não sei, talvez sim, talvez não. O fato é que ele teria vivido bem mais feliz e teria se tornado uma pessoa bem mais completa, se não tivesse se tornado vítima da indústria da beleza, da sociedade e de si mesmo. Espero que nos seus últimos dias, essa presença de Deus, que ele disse ter sentido, tenha sido algo realmente transformador na sua existência, e que tenha conseguido lhe assegurar uma passagem tranquila e com a paz que ele nunca conseguiu ter em vida.

Que ele descanse em paz e que Deus console o coração da família…

3 Responses
  • Juh Sarah
    junho 8, 2015

    Eu não disse que a leucemia tinha à ver com a vaidade, Lucille! Talvez você não tenha lido o texto com a atenção devida. Mas o que alguns médicos disseram na TV, é que o local da aplicação do hidrogel infeccionou e pode sim, ter prejudicado (e muito) na tentativa de controle da infecção que ele sofreu. Os locais que não tinham o hidrogel, respondiam de uma forma, onde havia o hidrogel, a infecção persistia. Eu deixei claro que não tenho conhecimento técnico para afirmar que foi o hidrogel que ocasionou a leucemia, mas também sei, que existem casos que as pessoas utilizam nos seus corpos, produtos que podem sim, desenvolver o câncer nas suas mais variadas formas. Assim como tem gente que tem câncer e nada o fez para ter, sempre cuidou da saúde. Enfim, meu texto foi mais para alertar para a desordem psicológica pela qual passava esse rapaz, e pela exploração que essa desordem teve por parte da mídia. Ele era o personagem de um verdadeiro freak show, onde era observado como aberração, por uma plateia que da mesma forma que aplaude, entrega aos leões.

  • Lucille
    junho 7, 2015

    Ele tinha câncer. O que uma doença tem que ver com vaidade? Gosto tando do seu blog e de seus vídeos, mas só quem já teve e/ou perdeu alguém para essa doença sabe o quão pesado é esse fardo. E sem base técnica não é possível sequer opinar, influencia muita gente com esse pensamento. Parece que todos que sofrem com a leucemia fizeram algo a si que desencadeou a doença, que são os culpados. E não são, como ele não foi.

  • Penteadeira das vaidades
    junho 6, 2015

    Excelente texto ! Esses programas sensacionalistas se aproveitam da desgraça das pseudos celebridades para aumentar audiência parecendo urubus sobrevoando a presa (digamos)…

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