Dossiê Plus Size: O que existe além da coroa de miss

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Muito tem se falado em concursos de Miss Plus
Size
, e no meu próprio círculo de amizades nas redes sociais, o que eu mais
vejo são concursos e mais concursos, onde meninas e mulheres buscam
reconhecimento da sua beleza no universo plus size. Eu particularmente,
não sou contra os concursos e sei que os que são realmente sérios, servem de
vitrine para aquelas que desejam adentrar na profissão de modelo. É claro que
nem todas conseguem, mas conheço casos de várias que conseguiram ser vistas e
apreciadas por sua beleza e presença de palco, e hoje estampam catálogos de
moda por todo o país e são presença garantida em eventos de moda diversos. Mas
esse não é um conto de fadas onde no final, dá tudo certo, porque a maioria que
entra nesses concursos tem que ter em mente, que o mercado é super competitivo
e por vezes, nada justo.
Mas o que quero abordar aqui, não são os
concursos em si, mas o que tem levado um incontável número de mulheres a
investir nesses eventos e a forma como elas tem lidado com os títulos que tanto
desejam e até que já conseguiram conquistar. Outro dia, uma moça postou os
seguintes dizeres no Facebook: “Pode falar o que quiser de mim, mas vai ter
que me engolir! Sou gorda, mas sou miss, e você que é magra e não é nada?”

Achei aquilo tão ofensivo, que fiquei pensando no que levaria alguém a escrever
uma coisa dessas, e comecei a dar uma olhada no perfil dela, que por sinal
estampava diversas fotos sempre com legendas agressivas, fazendo alusão ao fato
dela ter conseguido uma faixa num desses concursos de miss. A questão é
que a muitas dessas participantes, enxergam esses concursos como um álibe, algo
que legitime o seu excesso de peso. Algo que faça com que sejam aceitas pela
sociedade e muitas vezes, pelas próprias pessoas da família, que em vários
momentos as criticam por não conseguirem emagrecer. Parece que a coisa funciona
assim: “É gorda, mas tem título de miss, tá perdoada! É gorda, mas é modelo
plus size, tá tudo certo!”
E o pior de tudo, são aquelas que depois de
receberem suas faixas, embarcam numa grande “viagem” realmente acreditando que
são modelos, e vivem postando nas redes sociais que estão fazendo um “job”,
quando na verdade, estão posando e desfilando de graça, para griffes e
lojas, que em vários momentos, nem as roupas lhes oferecem depois. Trabalho não
remunerado, não reconhecido, não recompensado e totalmente desmerecido.
Tenho percebido que essas faixas tem o poder de
transformar a cabeça dessas mulheres, e fazer com que percam o rumo e o plumo
das suas próprias vidas, tornando-as seres alucinados, carentes e dependentes
da aceitação que nem elas mesmas tem por si. Porque pensem comigo, se alguém
precisa de uma faixa de miss para se aceitar e se amar, essa pessoa de
fato até hoje não se aceitou e está longe de saber o que é amor próprio.
Aceitação é algo profundo e intimo demais, e é uma transformação que acontece
de dentro para fora. Algo que independe de fatores externos, mas se fortalece
na forma como nós mesmos nos entendemos, nos estimulamos e até mesmo, da forma
como escolhemos nos relacionar com o mundo. Eu resolvi me aceitar, e para isso,
não precisei que ninguém me dissesse que eu era miss alguma coisa.
Aliás, o título de nada vale se quem o detem, entende pouco de si mesma e está
com a auto confiança em frangalhos. O que essas mulheres precisam entender, é
que não precisam de concurso algum que valide que são especiais e que tem um
lugar na sociedade mesmo estando fora dos padrões que ela prega, isso é
conquista pessoal e cada mulher precisa ter a sua.

Algumas chegam a ser incômodas e chatas,
falando o tempo todo de seus “títulos” e faixas, numa vexatória exposição de
insegurança, porque se auto afirmam tanto, que sequer entendem que auto
afirmação é coisa para quem não tem certeza do que é ou faz. De verdade, vocês
acham que quem realmente se ama e se aceita, precisa ficar falando isso o tempo
todo, precisa justificar seu excesso de peso com faixas de miss? Quem
está gorda tem que entender que não precisa ficar se justificando de nada,
porque a moda agora é se justificar e ter sempre um motivo para mostrar à
todos. A onda é dizer que está gorda por conta da tireóide, porque parece que
ser for distúrbio hormonal, qualquer quilo à mais será perdoado, e você será
uma gorda feliz e respeitável, bem diferente da gorda preguiçosa que os outros
tanto atacam, quando não há problema de saúde algum. Espero que entendam, que
independentemente dos motivos que levam uma pessoa a engordar, essa pessoa
continua como qualquer outra, merecendo respeito e consideração das outras, e
que emagrecer não vai tornar ninguém melhor como ser humano e nem vai trazer a
auto estima perdida. Até porque, quem é inseguro por natureza, quando emagrece
“pendura” em outros motivos a sua insegurança de sempre.
E por falar em insegurança, isso me fez lembrar
de um caso em especial, bem antigo aliás, dos tempos do Orkut. Uma conhecida
minha, que tinha na época quase trinta anos, 
participava de diversos grupos de gordinhas, e a proposta desses grupos,
era unir gordinhos (as) e seus admiradores em encontros diversos, que podiam
ser em casas noturnas, ou mesmo em sítios e acampamentos. O mais curioso de
tudo isso, é que ela não era (e até hoje não é) gorda, mas só se sentia segura
competindo por atenção, num ambiente onde as mulheres fossem bem maiores do que
ela. Na sua cabeça, os homens iriam prestar mais atenção nela, pois ela estava
em posição de vantagem com relação às outras (por serem gordas), mas ao mesmo
tempo, não conseguia se aventurar em uma “competição” fora daquele círculo, no
mundo real. Suas amizades eram sempre com mulheres gordas, bem gordas, por
sinal, e era com elas que saia, conversava e convivia. Essa foi a forma
“cômoda” que ela encontrou de se sentir melhor consigo mesma e de se mostrar
superior e mais segura. O problema todo, é que nada disso adiantou de verdade,
e ela seguiu insegura e fragilizada como sempre, mentindo para si mesma e para
todos à sua volta.
O pior, é que assim como ela existem muitas,
que só conseguem se ver e se entender bonitas e tem resolvidas, quando estão
inseridas dentro do universo plus size, seja recebendo suas faixas, ou
mesmo “brincando” de ser modelo, o fato, é que ser gorda no meio das gordas, é
muito cômodo para qualquer mulher. O grande desafio, é ter toda essa segurança
vivendo e convivendo no “mundo real”, onde mulheres de todas as formas, idades
e tipos, estarão à nossa volta. O que precisamos entender, é que não dá para se
isolar e viver falando e convivendo somente com o que tem a ver com esse nicho plus
size
.  Precisamos ser seguras de
verdade, para podermos ser fortes o suficiente, para interagirmos com todo o
tipo de pessoa, e conseguimos mostrar nossa determinação, nossa auto estima e
nosso valor. Mas quando eu digo mostrar, não quer dizer que precisamos
“esfregar” essas coisas na cara das pessoas, porque as nossas conquistas como seres humanos, são frutos da nossa postura e da nossa atitude diante das situações da vida, e não por conta de chavões decorados de uma auto afirmação mesquinha.
E a intenção desse texto (gigante, por sinal),
em momento algum foi tirar a importância dos concursos sérios e dos
profissionais que tem lutado de forma digna pelo segmento plus size, mas
mostrar que a vida vai muito além das faixas e títulos conquistados, e que não
são eles que fazem com que sejamos felizes e realizadas, pois isso, tem que vir
de dentro. Por isso, não se apegue à uma coroa como se ela fosse a sua tábua de
salvação, e nem abrace a sua faixa, como se ela fosse a sua luz no fim do
túnel, e entenda, que você não precisa de nada disso para ser feliz se aceitar
de vez. Não caia no ridiculo de tentar validar seu peso com seus títulos e nem
impor às pessoas a sua importância, por conta das faixas que acumula na sua
jornada interminável de concursos de miss. Todas as que insistem nesse
erro, descobrem cedo ou tarde, que os títulos passam, mas a insegurança e a
amargura da alma permanecem, e todos os dias dão as mãos ao medo, numa tortura
terrível e que nunca tem fim.

4 Responses
  • Larissa Lalá
    abril 18, 2016

    Exatamente! Muito bom

    • Juh Sarah
      agosto 31, 2016

      Fico feliz que tenha gostado. Escrevo com o coração.

  • Juliana Sena
    agosto 24, 2015

    Mulher tu tem o dom da palavra. Que arraso de texto!!!!! Coisa linda de se ler, parabéns.bju

  • Moda e Magia
    agosto 12, 2015

    Perfeito este texto Juh Sarah!!! É exatamente assim, infelizmente….

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