O que tiramos de lição do desfile da LAB no SPFW

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O segundo dia de desfiles do SPFW deste ano,  sem dúvida alguma, ficou para a história! Porque desde que eu me entendo por gente, vejo no mundo da moda pessoas bem diferentes de mim e das pessoas que me rodeiam na “vida real”. E a gente fica sem entender, o motivo de ser tudo tão segregado, de apenas uma parte muito pequena da população poder se sentir representada nas passarelas. É tudo muito estranho, porque não é só a questão da magreza que está sempre em evidência, mas os próprios biotipos mesmo, porque num país como o nosso miscigenado, ainda é meio que novidade encontrar negros desfilando ou fazendo editoriais de moda, assim como nordestinos, pessoas com traços indígenas, e por aí vai. Mas no desfile da LAB (Laboratório Fantasma), grife do rapper Emicida em parceria com seu irmão, Evandro Fióte, vimos vários tipos de pessoas na passarela, e o que poderia ser apenas mais um desfile, se tornou o ponto de partida para mais uma vez ser levantado um diálogo a respeito de representatividade.  Foi muito bom ver na passarela mulheres e homens de todos os tons de pele, de todas as formas e tamanhos, representando a “beleza real” que encontramos corriqueiramente no meio da rua, do nosso lado, nas nossas vidas, desfilando modelos que podem ser usados por homens e mulheres, quebrando dessa forma qualquer limite ou padrão de gênero que possa existir.  Na concepção do desfile, uma mistura inusitada que uniu o Oriente e a África, trazendo peças repletas de informações, com uma ligação muito forte com o street style, mas ao mesmo tempo com cortes diferenciados que davam leveza e a sensação de amplitude. A mistura de texturas,  figuras e cortes geométricos, uma pitada de alfaiataria e a eterna sincronia usando o preto e o branco, estavam presentes também nas peças, assim como estampas diferenciadas,  estilizadas à partir de tecidos tradicionais da Angola, mostrando a versatilidade que a moda pode (e deve) ter. E eu bem que gostaria que tudo o que vimos fosse algo normal de acontecer, mas infelizmente não é, porque trazer os “tipos normais” para as passarelas, ainda é algo raro, que poucos querem (e ousam) fazer, porque no íntimo, querem continuar produzindo para um nicho reduzido, segmentado e exclusivo de pessoas, porque a moda, na maioria das vezes não é democrática. Mas foi preciso um cara que conhece a realidade da periferia, as dificuldades enfrentadas por essa gente comum que acorda cedo para tentar vencer na vida, para trazer o diferente, o inusitado, o novo, com essa roupagem moderna, atual e cheia de estilo. Outro fato que bombou nas redes sociais, foi a participação da modelo Bia Gremion no desfile, pois a moça de 19 anos usa manequim 60, e ter uma modelo que nem no chamado casting de “Modelos Plus Size” se enquadra, desfilando, é um passo gigantesco em direção a essa tão sonhada representatividade que todos nós falamos. E foi interessante porque ela não estava lá desfilando uma grife para gordas, não estava sendo sinalizada como a gorda, era apenas mais uma modelo no meio de tantas outras, que estava lá, fazendo seu trabalho de forma digna e brilhante. E por mais que eu apoie e ache super importantes os eventos de moda plus size, devo confessar que eu sempre acho que eles por vezes nos fecham dentro de um mundinho “fat fashion”, porque o fato é que as gordas só conseguem espaço quando os eventos são destinados ao público gordo. E é tão bom ver todo mundo junto, essa mistura de pessoas, de gente de todos os tipos, simplesmente tendo seu espaço e sua chance de nos mostrar que a moda pode ser acessível às pessoas comuns, que como quaisquer outras, só querem se sentir conectados de alguma forma com as suas tendências. No desfile também brilharam os cantores Seu Jorge e Ellen Oléria, dois negros simplesmente maravilhosos, dos quais sou simplesmente fã. No mais, tudo estava perfeito, com a presença de calças com cortes diferenciados, capuzes, jaquetas, quimonos, camisetas,vestidos,  bermudas, chapéus, prissados, cintura marcada e muito, mas muito estilo.

LAB SPFW - N42 Outubro / 2016 foto: Ze Takahashi / FOTOSITE

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Então, a lição que podemos tirar desse desfile, é que as pessoas consideradas comuns, precisam ocupar seus espaços, para que tantas outras se sintam realmente representadas por elas na moda.  E que a beleza precisa ser valorizada nas suas mais diversas formas, fazendo assim, com que aqueles que se sentem excluídos e inadequados de alguma forma, possam entender e vivenciar o seu real valor na vida, e dentro da sociedade. Afinal, padrões foram feitos para serem quebrados, e a felicidade foi feita para ser conquistada, todos os dias.

 

 

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